Desrespeitar a mulher é atentar contra o humano que existe em cada um de nós.

 

O dia 08 de março é tradicionalmente conhecido como o Dia Internacional da Mulher, desde o ano de 1975, quando a Organização das Nações Unidas – ONU, assim o reconheceu. Desde então, muitas foram as lutas - algumas delas manchadas com o sangue das próprias mulheres - que levaram a conquistas importantes e abriram portas para outros avanços.

Ao olhar para traz no retrovisor da história da mulher brasileira, identificamos tempos em que a ela não era permitido frequentar a escola além do nível primário, não havia participação política e nem o direito ao voto; sem contar que o casamento era uma instituição indissolúvel à qual homens e mulheres estavam presos, contudo, determinando às esposas comportamentos ilibados que não se aplicavam aos homens. Além disso, a lei brasileira permitia ao marido solicitar a anulação do casamento caso detectasse que houve quebra da virgindade feminina antes do matrimônio.

Foi somente a partir da constituição de 1988 que a mulher foi legalmente considerada uma cidadã em igualdade de direitos e deveres com os homens, mas, na prática, sabemos que ainda há muitas situações de desigualdade, machismo e desrespeito ao sexo feminino. A criação de uma Delegacia de Atendimento Especializado à Mulher, por exemplo, é uma conquista que, paradoxalmente, nos lembra que ainda há muitas Marias da Penha precisando recorrer à justiça para preservar sua vida e integridade física, o mesmo se passando quando o feminicídio passa a ser considerado um crime de homicídio qualificado.

Desrespeito à condição humana

O Dia Internacional da Mulher, neste ano de 2022, infelizmente é recebido com mais uma manifestação de desrespeito às mulheres, inclusive em sua condição de ser humano. Na mídia, um dos temas mais discutidos é a inconveniência de um homem público que manifesta seu machismo e sua falta de compaixão ao fazer comentários de cunho sexual sobre mulheres que, neste exato momento, veem seu país ser destruído pela guerra, e junto dele tudo o que compõe sua identidade.

Demonstrando uma insensibilidade perversa diante do sofrimento de toda uma nação, esse representante do povo, sob o pretexto de apoiar em ações humanitárias, foi traído por seu inconsciente e se descuidou em relação aos registros de seus ímpetos primitivos, deixando vir à público áudios comprometedores. Atitudes como essa são o combustível para que se aumente a tensão entre homens e mulheres, reforçando nestas últimas a crença de que aquele que deveria ser o seu par, apresenta-se como um oponente a ser enfrentado com todas as ferramentas cognitivas e emocionais que se fizerem disponíveis.

Mas, afinal, quais são as ferramentas de que dispõem as mulheres para lutarem em defesa de seus interesses?

A despeito do rótulo de “sexo frágil”, a mulher tem capacidade para realizar, produzir, enfrentar situações de diversos níveis de complexidade. À mulher foi concedido o poder de gerar a vida e, apesar de ser esse um ato concreto que exige muito das habilidades de seu corpo, nem de longe é a sua principal virtude. A mulher nutre em silêncio e, tal como a terra que germina uma semente, trabalha na escuridão criando a mais perfeita obra que é o próprio ser humano.  Essa é a maior arma da mulher – sua energia transformadora.

Mas não é somente a mulher que é mãe que possui este poder da transmutação. A força feminina se manifestada em cada ser humano, inclusive nos homens, toda vez que o amor, a compaixão, a leveza, o cuidado, a proteção, são as ferramentas escolhidas para a realização de qualquer feito. Por isso, quando um homem ataca uma mulher, seja por meio da força física, seja usando a violência verbal ou até mesmo lhe impondo constrangimentos, os efeitos são sentidos em cadeia e atingem a natureza humana do ser. A dor que este ato provoca é sentida também por quem lhe infringe, pois em sua essência sabe que atinge também todas as mulheres que estão presentes em sua vida – sua mãe, suas irmãs, sua namorada.

Talvez intimidados pela grandeza dessa força é que nossa sociedade machista ainda insista em limitar os espaços femininos, impondo condições desiguais, aumentando os obstáculos para certas conquistas e tentando frear um crescimento que a cada dia se faz mais perceptível. A mulher, no entanto, vem aperfeiçoando suas habilidades e, se adaptando às dificuldades do meio, aos poucos vem comprovando que o seu lugar é exatamente onde ela quiser estar. Não há fronteiras para o crescimento de uma mulher que acredita em si e tem consciência do poder que a natureza lhe permitiu conduzir.

 

Belo Horizonte, 07Mar22

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