Desrespeitar a mulher é atentar contra o humano que existe em cada um de nós.
Ao olhar para traz no
retrovisor da história da mulher brasileira, identificamos tempos em que a ela
não era permitido frequentar a escola além do nível primário, não havia
participação política e nem o direito ao voto; sem contar que o casamento era
uma instituição indissolúvel à qual homens e mulheres estavam presos, contudo,
determinando às esposas comportamentos ilibados que não se aplicavam aos homens.
Além disso, a lei brasileira permitia ao marido solicitar a anulação do
casamento caso detectasse que houve quebra da virgindade feminina antes do
matrimônio.
Foi somente a partir da
constituição de 1988 que a mulher foi legalmente considerada uma cidadã em igualdade
de direitos e deveres com os homens, mas, na prática, sabemos que ainda há
muitas situações de desigualdade, machismo e desrespeito ao sexo feminino. A
criação de uma Delegacia de Atendimento Especializado à Mulher, por exemplo, é
uma conquista que, paradoxalmente, nos lembra que ainda há muitas Marias da
Penha precisando recorrer à justiça para preservar sua vida e integridade
física, o mesmo se passando quando o feminicídio passa a ser considerado um
crime de homicídio qualificado.
Desrespeito à condição humana
O Dia Internacional da Mulher,
neste ano de 2022, infelizmente é recebido com mais uma manifestação de
desrespeito às mulheres, inclusive em sua condição de ser humano. Na mídia, um
dos temas mais discutidos é a inconveniência de um homem público que manifesta
seu machismo e sua falta de compaixão ao fazer comentários de cunho sexual sobre
mulheres que, neste exato momento, veem seu país ser destruído pela guerra, e
junto dele tudo o que compõe sua identidade.
Demonstrando uma
insensibilidade perversa diante do sofrimento de toda uma nação, esse representante
do povo, sob o pretexto de apoiar em ações humanitárias, foi traído por seu
inconsciente e se descuidou em relação aos registros de seus ímpetos
primitivos, deixando vir à público áudios comprometedores. Atitudes como essa
são o combustível para que se aumente a tensão entre homens e mulheres,
reforçando nestas últimas a crença de que aquele que deveria ser o seu par, apresenta-se
como um oponente a ser enfrentado com todas as ferramentas cognitivas e emocionais que se fizerem
disponíveis.
Mas, afinal, quais são as ferramentas
de que dispõem as mulheres para lutarem em defesa de seus interesses?
A despeito do rótulo de “sexo
frágil”, a mulher tem capacidade para realizar, produzir, enfrentar situações
de diversos níveis de complexidade. À mulher foi concedido o poder de gerar a
vida e, apesar de ser esse um ato concreto que exige muito das habilidades de
seu corpo, nem de longe é a sua principal virtude. A mulher nutre em silêncio e,
tal como a terra que germina uma semente, trabalha na escuridão criando a mais
perfeita obra que é o próprio ser humano. Essa é a maior arma da mulher – sua energia
transformadora.
Mas não é somente a mulher que
é mãe que possui este poder da transmutação. A força feminina se manifestada em
cada ser humano, inclusive nos homens, toda vez que o amor, a compaixão, a
leveza, o cuidado, a proteção, são as ferramentas escolhidas para a realização
de qualquer feito. Por isso, quando um homem ataca uma mulher, seja por meio da
força física, seja usando a violência verbal ou até mesmo lhe impondo
constrangimentos, os efeitos são sentidos em cadeia e atingem a natureza humana
do ser. A dor que este ato provoca é sentida também
por quem lhe infringe, pois em sua essência sabe que atinge também todas as
mulheres que estão presentes em sua vida – sua mãe, suas irmãs, sua namorada.
Talvez intimidados pela
grandeza dessa força é que nossa sociedade machista ainda insista em limitar os
espaços femininos, impondo condições desiguais, aumentando os obstáculos para
certas conquistas e tentando frear um crescimento que a cada dia se faz mais
perceptível. A mulher, no entanto, vem aperfeiçoando suas habilidades e, se
adaptando às dificuldades do meio, aos poucos vem comprovando que o seu lugar é
exatamente onde ela quiser estar. Não há fronteiras para o crescimento de uma
mulher que acredita em si e tem consciência do poder que a natureza lhe
permitiu conduzir.
Belo Horizonte,
07Mar22
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