Quando uma skatista nos lembra que é bom se divertir


Nos últimos dias o Brasil se emocionou e se orgulhou ao ver uma garotinha de 13 anos ganhar uma medalha olímpica numa modalidade esportiva ainda pouco usual – o skate. Rayssa Leal é um nome que se ouve e que se lê em toda a mídia e um dos vídeos mais populares sobre o seu grande feito mostra que ela dançava descontraidamente durante a competição, enquanto não se divertia sobre seu skate. Sim! Rayssa ganhou uma medalha olímpica fazendo o que é de se esperar de uma criança da idade dela – se divertindo.


Esse evento que tomou conta dos comentários nacionais por toda parte me fez lembrar de uma música de Guilherme Arantes que eu ouvia quando era adolescente, na voz de Maria Bethânia. Seu nome é “Brincar de viver” e a letra nos fala do convite que recebemos diariamente a dizer “Sim” à nossa imaginação, de não levar tão à sério os “não” que a vida nos dá; nos convida a sonhar, a amar e entender que somos apenas parte do processo e nunca o centro do universo. Em resumo, para mim essa música fala de leveza e de humildade - o convite é para ser leve ao viver as experiências que a vida nos traz e humildes para entender que cada pessoa com as quais cruzamos, ainda que representem papeis de adversários, são nossos parceiros de jornada. Vi essas duas habilidades sendo demonstradas pela nossa skatista na competição que lhe garantiu o podium.

O brincar e a realidade

Quando somos crianças, por mais desafiante que seja nossa realidade, sempre temos nossos brinquedos, pois é natural desta fase do desenvolvimento humano entender o mundo a partir da fantasia. É criando histórias em nossa mente e dando asas à imaginação que conseguimos elaborar o que experimentamos à nossa volta e nos apropriamos do significado das coisas do mundo adulto, o mundo que nos espera.

E como é comum que as crianças incorporem algum personagem e permita que realidade e fantasia se misturem no seu dia-a-dia!

Enquanto os adultos, esquecidos de suas próprias histórias infantis, interpretam as atitudes das crianças como meros passatempos, na cabecinha delas tudo faz muito sentido e lhes ajuda a amadurecer, encontrando seu próprio jeito de ser no mundo. Penso que quando Rayssa Leal foi para as ruas vestida com sua roupinha de fada e deslizando pelo asfalto com seu brinquedo favorito, inicialmente estava só sendo criança, mesmo, e se divertindo com o que lhe permitia soltar a imaginação. Eu não me surpreenderia se viesse a saber que aquela mente viajava por dimensões distantes, interagindo com personagens por ela criados enquanto na realidade física e material ela estava se tornando uma grande skatista. 



A gente precisa se divertir

A brincadeira é um recurso absolutamente saudável para aprendermos a lidar com os obstáculos que necessariamente encontramos pelo caminho, em todas as fases da vida. E não é à toa que ao crescermos, se conseguimos manter essa habilidade conseguimos caminhar com mais leveza.

Eu costumo dizer que ao longo da vida vamos trocando de brinquedos, a fim de adequá-los às novas fases. Desta forma, o trabalho que escolhemos precisa nos dar o prazer da brincadeira, os amigos que mantemos por perto precisam ser companheiros de diversão, as tarefas que executamos precisam ser realizadas sem o peso de uma obrigação. Quando conseguimos viver assim, alcançamos o feito que Rayssa veio nos lembrar com sua medalha de prata.

Ter a ousadia de competir numa olimpíada como se estivesse apenas treinando nas ruas de sua cidade conferiu a ela a tranquilidade necessária para simplesmente demonstrar sua grande habilidade, desenvolvida e treinada nos cenários lúdicos de sua infância. Agora, uma curiosidade tem se apropriado de mim em relação e esse fenômeno que se tornou a skatista brasileira de apenas 13 anos: o que será que mais motivou todo esse alvoroço em torno da medalha alcançada por ela? Será o fato de ela ser apenas uma pré-adolescente? Será por ser tão habilidosa com o skate? Ou será por ser uma menina se aventurando num esporte usualmente praticado por meninos?


Essa, porém, é uma discussão polêmica que vou deixar para outro momento. 


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