Alcoolismo funcional - você sabe o que é?
É possível que
essa terminologia não lhe seja tão conhecida, já que pouco se fala a respeito
deste assunto. Normalmente o que se enfoca é o alcoolismo propriamente dito,
suas causas e consequências, e esses, certamente, são os aspectos mais
significativos de se abordar sobre essa doença que afeta tanto homens quanto
mulheres, de forma crescente, haja vista os prejuízos que provoca. No entanto,
entender uma outra face do vício em álcool que também pode causar dor e
sofrimento é fundamental para se buscar tratamento e prevenção – por isso escolhi
falar sobre esse tema.
Muitos de nós conhecem ou convivem com alguém, que tem uma
relação de intimidade com a bebida alcoólica que chega a incomodar, porém, não
provoca os danos que são utilizados cientificamente para diagnosticar um
alcoolismo. A pessoa gosta muito de beber; às vezes até passa a semana toda
sem ingerir bebida alcoólica, mas dedica o final de semana todo a ela sob o
pretexto de relaxar das tensões da rotina; ou também podemos conhecer pessoas
que bebem pouco, mas bebem todos os dias. Essas pessoas podem nunca ter tido um
comportamento que denunciasse influência do uso do álcool, mas quando se sente
criticada pela necessidade constante de beber, acaba se irritando, se sentindo
criticada e evitando ouvir o que tem a dizer aqueles que testemunham essa relação
de dependência.
Sim, dependência!
Esse é o ponto
que nos ajuda a pensar o diagnóstico indicado para pessoas que sempre estão
buscando a companhia de uma latinha de cerveja ou de um drink, sob o
pretexto de que este é um grande prazer que encontra na vida.
Normalmente,
um indicador que se usa para estabelecer que um comportamento ou hábito é prejudicial,
quer seja no âmbito individual, quer seja no social, é a frequência de
problemas que são provocados. Por isso o alcoolismo funcional é algo que passa
despercebido como doença, pois o indivíduo consegue administrar sua necessidade
sem que haja descuidos quanto às suas obrigações e relacionamentos. No entanto,
a médio prazo, a dependência aumenta e problemas secundários de saúde podem surgir,
tais como: distúrbios alimentares, sono alterado, problemas de coração e até
mesmo cirrose ou câncer. Como essas doenças podem ser oriundas de várias causas,
o uso do álcool para essas pessoas pode não ser identificado como o responsável
pelo seu aparecimento.
Indicativos do alcoolismo funcional
Precisamos
estar atentos a alguns sinais quando a relação com a bebida passa a
chamar a atenção:
se a pessoa
tem forte tolerância à bebida, ao ponto de não apresentar ressaca ou traços de embriaguez
após beber uma quantidade considerada acima do normal, pode ser que seu corpo
já esteja se acostumando aos níveis de álcool no sangue;
quando a
pessoa prefere beber do que comer, ou usa as refeições como desculpa para
incluir uma bebida alcoólica como acompanhamento, já demonstra que a bebida faz
parte de sua rotina;
diante da
falta da bebida alcoólica, se a reação da pessoa é irritação ou até mesmo alterações
físicas, como ansiedade, palpitações e sudorese, podemos já estar diante de uma
crise de abstinência;
se o limite
para parar é cada vez mais estendido e a pessoa bebe sem perceber o quanto já
ingeriu, denuncia que existe uma necessidade fisiológica ou psicológica de
continuar a beber;
quando foge do
assunto quando confrontada com sua relação exagerada com a bebida ou usa
desculpas, mas nunca quer refletir sobre o que lhe está sendo mostrado, está
negando sua dependência.
Se você chegou até aqui porque se lembrou de alguém com quem se importa, deve estar se perguntando: o que eu faço diante disso?
De fato, é uma
situação muito delicada, pois se até aqueles bebedores que já acumulam
prejuízos na vida pessoal e profissional têm dificuldade para se assumirem
dependentes do álcool, o que dizer daqueles que podem se vangloriar de
conseguir ter uma relação saudável com familiares, amigos e executar bem seu
trabalho, apesar da bebida sempre presente em seu dia a dia? Portanto, minha
posição é que precisamos lidar com os dois casos da mesma forma e aí vão
algumas dicas:
1 - O primeiro passo pode ser muito difícil, mas não há como fugir
dele: conversar.
É preciso que esse assunto seja discutido com a pessoa que bebe além do
normalmente aceito, num momento que sabemos que ela terá condições de ouvir e
se tocar. Assim, a abordagem precisa ser feita por alguém em quem ela confia e respeita,
para que haja sensibilização para o assunto.
2 - Talvez a
leitura deste artigo possa ser usada como ponto inicial para a conversa e, na
sequência, você pode acolhê-la dizendo que todos nós temos nossos pontos fracos
e tentamos compensá-los de alguma forma. Alguns buscam a bebida, outros o
trabalho em excesso, para outros é o sexo, o esporte... mas tudo em excesso é alerta
de problema e merece atenção.
3 – Se a conversa
for bem recebida, você pode convidá-la a experimentar o estabelecimento de
limites para exercitar esse que é seu grande prazer, talvez combinando dias para
beber e quantidades máximas de doses.
4 - Importante
também alertar para o fato de que há tratamento para esse desequilíbrio, pois
ninguém está sozinho. Há bons profissionais na área da saúde mental que lidam
com os vários tipos de dependência e até grupos de apoio, inclusive na rede pública
de atenção à saúde.
No entanto, se
houver resistência até mesmo a começar a discutir o assunto, o que eu recomendo
é que se retorne a tentativa quando for oportuno. A sugestão do agendamento de
um check-up de saúde para a realização de alguns exames médicos pode ser uma
forma de encerrar a conversa deixando “pega” para retomada, ou mesmo o
aconselhamento à procura por informações sobre os indicativos de problema com bebida,
um assunto que a internet apresenta uma vasta gama de artigos.
@elienelima.psi
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