Quando os atos dos pais afetam o futuro dos filhos.
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O tema central do filme “Imperdoável” são as dificuldades que uma mulher que cometeu um crime violento enfrenta, ao sair da prisão após 20 anos cumprindo pena. Todo o drama gira em torno das reações de cada personagem, diante de um homicídio cometido numa situação de muito medo e tensão.
No entanto, uma informação que é
dada de forma bastante discreta e sem ganhar visibilidade, é o fato de que tudo
o que vemos no filme só ocorre porque o pai das duas protagonistas cometeu
suicídio por não suportar a morte da esposa, ocorrida durante o nascimento da
filha mais nova.
Li alguns comentários e críticas
sobre o enredo e o foco em todos eles é a necessidade que temos de rever a
situação de ex-detentos quando voltam para a vida em sociedade. Inclusive, um
dos sites que comentam o filme aponta que o ‘problema’ da história é o fato de
não apresentar solução para essa questão social.
Eu entendo e concordo que esse,
realmente, é um desafio a ser enfrentado. No entanto, muitos crimes são
cometidos justamente porque houve lacunas na educação dos filhos, como, por
exemplo, pais que não souberam assumir seu lugar, levando outros elementos do círculo
familiar a também assumir funções para as quais não estavam preparados.
Esse foi o caso de Ruth, a
personagem interpretada por Sandra Bullock, que se viu na condição de
responsável por sua irmã Rachel diante da ausência dos seus pais. Apesar da dor que certamente sentiu pela
atitude do pai e pela ausência da mãe, não hesitou em incorporar o lugar de
única no momento a ter algo a oferecer, embora também fosse apenas uma adolescente,
igualmente desamparada.
Não estou aqui para julgar o ato extremo de um pai que não suporta a morte da esposa – cada um sabe onde o calo lhe dói e ele, certamente, possuía uma estrutura psicológica também abalada por perdas e danos de sua própria formação familiar. Meu alerta, aqui, é sobre a bola de neve infinita que pode ser gerada a partir dos traumas infantis não trabalhados, não curados. Mesmo quando as atitudes doentias ou imaturas dos pais possuem justificativa, as consequências que são deixadas no psiquismo dos filhos persistem e exigem também ser tratadas. Família é uma pequena amostra de um grupo maior, que é a sociedade, sendo imprescindível que cada pessoa saiba exatamente qual o seu papel e as implicações dele na dinâmica das relações.
Em “Imperdoável” temos a oportunidade de observar o quanto as marcas insistem em atropelar nossas ações conscientes, mesmo quando tudo parece que transcorre sob controle e de forma equilibrada. A vida das duas irmãs teve seu curso totalmente atravessado: uma foi para a prisão, enquanto a outra foi adotada e teve a chance de estudar e desenvolver seus talentos. No entanto, mesmo depois de adulta algumas memórias infantis lhe assombravam, roubando o brilho de uma vida aparentemente feliz construída sobre os escombros de uma história que tentaram a todo custo apagar de sua mente.
O senso de responsabilidade que
foi exigido de uma adolescente, ao ter que cuidar e proteger uma irmã de 5 anos
de idade, custou-lhe a liberdade e boa parte da juventude. E, considerando-se
que certas marcas que adquirimos são imperdoáveis aos olhos da sociedade, dificilmente
ela terá uma nova chance. Pra mim, trata-se
de um filme que aborda o tema da responsabilização do princípio ao fim.
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