Quem não foi cuidado na infância pode passar a vida entre dois extremos: ou cuidando demais ou buscando ser cuidado!


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Você conhece alguma família em que o homem, quando nasceu seu filho, se comportou como se também fosse um filho pequeno precisando de cuidados? Ou mesmo uma mulher que não conseguiu ocupar seu lugar de mãe, deixando o bebê sob a responsabilidade de outros e tendo comportamentos reivindicativos de atenção também?

Isso é algo comum em pessoas que não tiveram os cuidados adequados e suficientes quando, de fato, eram crianças. As consequências podem ser as mais variadas, mas giram sempre entre os extremos: ou a pessoa cuida em excesso ou chega a se infantilizar buscando ser cuidado. Em qualquer dos casos, percebe-se a dificuldade de se assumir o papel adulto que era esperado que assumisse, e vemos muitos casais tendo problema na relação por esse motivo, sem nem mesmo saber a verdadeira razão dos conflitos.

 A eterna procura pelo preenchimento do grande vazio

É claro que é natural que haja algum impacto na relação conjugal logo após a chegada de um bebê para a família, mas o esperado é que os adultos sejam capazes de se apoiar e encontrar seu lugar. No entanto, não são raros os casos em que neste momento aflore a carência afetiva que foi cultivada uma vida inteira, em razão de cuidados infantis que não foram suficientes.

Quando uma criança é inserida num contexto familiar de relações imaturas, existe grande chance de ela ser privada do afeto, orientações e experiências que ela deveria ter acesso para alcançar um desenvolvimento psicológico o mais próximo possível de saudável. A consequência disso pode ser um enorme vazio inominável ao qual ela passa grande parte da vida – quiçá uma vida toda – tentando entender e dominar.  

Enquanto isso acontece, ela transita pelo mundo e pelos relacionamentos com as ferramentas comportamentais que aprendeu, agindo e reagindo como sabe. Muitas vezes isso implica em se colocar em relações abusivas e/ou tóxicas, em busca de compensar afetivamente essa carência que ela nem sabe descrever.

O “cuidar” pode estar neste rol de comportamentos aprendidos, já que foi isso que lhe faltou. Mas pode se apresentar de uma forma exagerada, que chega a sufocar a pessoa que é cuidada, pois, no inconsciente do cuidador existe um comando que lhe diz: “não deixa ela passar pelo que você passou”.

Por outro lado, temos também a possibilidade de a reação acontecer no sentido oposto, que é de manter a pessoa sempre na condição de quem precisa ser conduzido em tudo, em todos os passos, necessitando ser cuidada como se fosse uma criança.

O que a Série YOU nos mostra sobre este tema

Infelizmente, muitas famílias tem sido constituídas por indivíduos cuja maturidade emocional ainda está estacionada lá naquela criança desamparada e uma das consequências pode ser a reprodução da carência na prole que se forma, repetindo um ciclo que só o autoconhecimento é capaz de fazer parar.

Entretanto, também temos a possibilidade de um cenário pior, que é quando o psiquismo é atingido mais profundamente e vemos os indivíduos representarem socialmente papeis que estão a serviço deste “desconhecido” que ele traz dentro de si com atitudes que prejudicam tanto a si quanto a quem com eles convivem.

Isso nos é mostrado, de uma forma extrema, na Série YOU da Netflix, um entretenimento que eu recomendo com a finalidade de vermos até que ponto um filho negligenciado e mal conduzido pela família pode chegar, com a simples intenção de ser amado. Ao longo dos episódios assistimos a atitudes criminosas sendo tomadas, uma sequência de encontros desastrosos entre adultos com passado de abandono e um rastro de destruição sendo deixado em nome do amor.

Confere lá e depois me conta o que mais te chamou a atenção.

@elienelima.psi




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