"If"

 




Em 1993 quando Elizabeth Badinter publicou o livro XY - sobre a identidade Masculina, dois universitários norte americanos ficaram famosos ao enunciar quatro imperativos da masculinidade sob a forma de slogans populares.

Em termos gerais, eles falavam do ideal masculino para a época, inspirados em Rambo, Stalone e no personagem inesquecível dos cigarros Malboro que ilustrava a figura do supermacho. Neste contexto, me deparei com a citação de um poema magnífico de Rudyard Kipling, nomeado “If” – “Se” em português, que denuncia de uma forma sensível, inteligente e quase sutil, algumas condições que um homem enfrenta para poder ser considerado como tal.

A beleza do poema sempre me encantou e ofuscou totalmente meus olhos para esse sentido ideológico que carrega. Justamente por essas duas razões – sua beleza e sua carga ideológica – decidi trazê-lo para mais perto de mim, e compartilho com meus leitores.

Aproveitem a leitura e, se quiserem, vamos discuti-lo.

 

 

                         “Se”

                                               Rudyard Kipling

 

Se és capaz de manter a tua calma quando
Todo o mundo ao teu redor já a perdeu e te culpa;
De crer em ti quando estão todos duvidando,
E para esses no entanto achar uma desculpa;
Se és capaz de esperar sem te desesperares,
Ou, enganado, não mentir ao mentiroso,
Ou, sendo odiado, sempre ao ódio te esquivares,
E não parecer bom demais, nem pretensioso;

Se és capaz de pensar – sem que a isso só te atires;
De sonhar – sem fazer dos sonhos teus senhores;
Se, encontrando a desgraça e o triunfo, conseguires
Tratar da mesma forma a esses dois impostores;
Se és capaz de sofrer a dor de ver mudadas
Em armadilhas as verdades que disseste,
E as coisas, por que deste a vida, estraçalhadas,
E refazê-las com o bem pouco que te reste;

Se és capaz de arriscar numa única parada
Tudo quanto ganhaste em toda a tua vida,
E perder e, ao perder, sem nunca dizer nada,
Resignado, tornar ao ponto de partida;
De forçar coração, nervos, músculos, tudo
A dar seja o que for que neles ainda existe,
E a persistir assim quando, exaustos, contudo
Resta a vontade em ti que ainda ordena: "Persiste!";

Se és capaz de, entre a plebe, não te corromperes
E, entre reis, não perder a naturalidade,
E de amigos, quer bons, quer maus, te defenderes,
Se a todos podes ser de alguma utilidade,
E se és capaz de dar, segundo por segundo,
Ao minuto fatal todo o valor e brilho,
Tua é a terra com tudo o que existe no mundo
 – o que mais – tu serás um Homem, ó meu filho!

















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