"Decifra-me ou te devoro"!
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"Decifra-me ou te devoro"
Esta frase é um dos elementos
chave do Mito da Esfinge, que compõe o enredo da história de Édipo, um
personagem bastante conhecido entre psicólogos, psicanalistas, filósofos e
estudiosos do comportamento humano.
Resumindo bastante a
narrativa, Édipo consegue decifrar o enigma proposto pela esfinge, uma figura
mitológica que tem corpo de animal, porém rosto e peito de mulher, que abordava
os viajantes de Tebas apresentando-lhes um quebra-cabeças de cuja resposta
dependia sua vida.
“Qual
é o animal que de manhã tem quatro patas, à tarde tem duas e à noite tem três”?
Ao dar resposta à questão,
explicando tratar-se do homem em três fases
distintas de sua vida – infância, fase adulta e velhice – Édipo faz com que a
esfinge se atire num precipício e, sem esse obstáculo a lhe impedir de entrar
na cidade, conquista seu ingresso para cumprir o que previu o oráculo, ainda
antes do seu nascimento. Ele mataria seu pai e se casaria com sua mãe[1].
O desafio proposto pela
Esfinge mitológica chama a atenção para o quanto estamos mais voltados a
conhecer o mundo externo, com todos os seus atrativos, do que a conhecer nossa
própria verdade. Sobretudo no mundo atual, onde as novidades trazidas pelas
conexões tecnológicas são irresistíveis, voltar nosso olhar para o mundo
interior é uma tarefa cada vez mais difícil, embora cada dia mais urgente.
Afinal, por que olhamos mais
para fora que para dentro?
E eu faço outra pergunta para
começar a responder a anterior: quem de nós cresceu sendo ensinado a olhar para
dentro de si?
Vivendo numa sociedade onde
nosso valor está ligado ao ter e não ao ser, romper com o padrão e passar a
olhar para uma direção oposta à da maioria, requer muita coragem ou muito
sofrimento. Geralmente, os dois.
Assim,
ü quando
nossa saúde não suporta mais a correria da vida
profissional focada em mais dinheiro e mais status, somos forçados a parar;
ü quando
nossa vida afetiva se transforma um verdadeiro
caos, e essa não é a primeira vez, somos forçados a nos reorganizar;
ü quando
um filho passa a ter recorrentes problemas de
comportamento e só o levar para tratamento já não resolve mais, somos
convidados a participar do processo de cura;
ü quando
os “sapos” que engolimos para demonstrar
competência começam a nos saltar pela boca, somos obrigados a vomitar tudo
aquilo que nos foi oferecido e que aceitamos contra nossa vontade.
Estes são alguns exemplos de
situações de crise que podem levar ao chão tudo aquilo pelo que lutamos, tudo o
que construímos e que, no entanto, estavam embasados em desejos do nosso Ego.
Vivemos, então, o momento em que nossas certezas se ruem, provocando imensas
rachaduras no Eu que construímos, e nos obriga a encarar nossa verdade.
Dizem que temos duas formas de
aceitar a mudança: ou pelo amor, ou pela dor. A maioria das grandes
transformações que operamos em nós são em razão da segunda opção, no entanto,
se aceitarmos a proposta da Esfinge e passarmos a nos decifrar, o amor próprio
poderá ser cultivado e multiplicado. Seremos melhores exemplos para as gerações
vindouras e participaremos de um movimento que orienta os holofotes para o
mundo interior.
Isso poderá mudar o mundo,
pois estaremos mudando o coração do homem!
@elienelima.psi
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