Pai - você tem ideia do quanto esse papel é importante?
Antes de seguir lendo as minhas palavras, te faço o convite a tentar completar a frase acima. Talvez seja fácil para você; talvez você nunca tenha parado para pensar nesse tema; talvez você não tenha palavras para expressar ... mas eu sugiro que você tente, pois pode ser um exercício inovador e com potencial para te engrandecer.
É possível que nas respostas que te venham não haja nada que associe a paternidade a um lugar no paraíso. Porém, é possível que num cenário bem positivo você consiga pensar em palavras ligadas à figura do herói, do amigo, da proteção, pois esses são os adjetivos que aprendemos a dar ao pai, da mesma forma como somos levados a atrelar à figura materna o senso de acolhimento, doação e até mesmo de vida.
Ao realizar esse exercício de pensar no que significa ser pai creio ser prudente lembrar que todos os nossos conceitos são aprendidos socialmente e que esse aprendizado cria em nossas mentes um modelo a ser seguido. Por isso, muitas vezes quando nossa realidade não corresponde exatamente ao que nos disseram ser o certo, o aceitável, o desejável, experimentamos a sensação da falta, do não ter. Mas isso não é verdade! A verdade é que é possível termos algo diferente, igualmente valioso e que nos satisfaz, ou que cumpre de forma eficaz o que dele se espera, apesar de não corresponder ao estereótipo que nos é imposto socialmente. E por que estou te advertindo sobre isso? Porque é quase certo que ao tentar completar minha frase provocativa, você use como base o pai que você teve ou, quiçá, o que não teve.
A outra metade que não pode faltar
Ser pai não é tarefa simples, embora haja uma tendência cultural a colocá-lo em segundo plano quando comparado ao que se espera da mãe. No entanto, não é preciso grande esforço intelectual para entender que, apesar dos avanços da ciência, ainda não se consegue gerar uma nova vida humana sem que o óvulo se una a um espermatozoide. Gerar em seu próprio corpo e amamentar um novo ser é algo que foge ao alcance de um pai, porém cada vez mais nos deparamos com companheiros que fazem por onde merecer esse título e cumprem com maestria as tarefas tão necessárias ao bem estar do bebê quando ainda muito dependente, o que inclui fraldas e mamadeiras, mas também afetos e brincadeiras.
Ser pai, assim como ser mãe, é algo que se constrói à medida que se assume esse desejo e este lugar, e o estilo de pai que será adotado estará também ligado ao espaço que a mãe irá liberar para ele junto ao filho que é dos dois. Quando a mãe não permite que o pai se coloque como um terceiro na relação entre ela e o bebê, se não acredita que ele é capaz de contribuir ou, pior, quando não deseja que ele participe, está dificultando a formação de um vínculo extremamente importante para o desenvolvimento psíquico deste filho. É certo que sem a maternagem um bebê humano pode até não sobreviver, no entanto, sem o direcionamento e os limites ensinados pelo pai a caminhada deste novo indivíduo pode ser bem mais difícil.
Mãe é ninho que acolhe, é asa que aquece, mas quando chega a hora de alçar novos voos, poder contar com a experiência de um pai que mostre os caminhos seguros é uma dádiva que nem sempre sabemos valorizar. Um filhote quando empurrado, seja pela mãe, seja pela vida, sairá do calorzinho que o abraça, mas não sairá pronto. E quando a realidade do mundo fora das fronteiras do lar impuser suas condições, certamente aquele que teve uma autoridade paterna a lhe forjar o caráter estará mais fortalecido para enfrentar o que vier.
E quando o pai não está presente?
A essa altura, essa deve ser a pergunta que não quer calar! Sim, as inúmeras pesquisas que apontam para o crescente número de famílias cujas mães assumem sozinhas a responsabilidade pela prole podem nos levar a pensar que, afinal, o papel do pai não é assim tão importante. No entanto, em resposta a essas estatísticas eu recorro aos diversos estudos que indicam que a ausência paterna pode gerar indivíduos inseguros, com dificuldades cognitivas e de interação social, além daquelas que associam a delinquência e a criminalidade juvenil a uma educação sem noção de limites e sem uma figura de autoridade presente. Mas sabemos que, por outro lado, há incontáveis casos de pessoas cuja ausência paterna não foi impedimento para que se tornassem pessoas honestas, bem sucedidas profissionalmente e na vida pessoal.
A boa notícia é que do mesmo jeito que um filho não morre caso perca sua mãe exatamente no momento em que ela lhe deu à luz, a inexistência de um pai que acompanhe a educação de seu filho não o impede de ter o seu caráter bem formado nem tão pouco o seu psiquismo. A vida sempre nos possibilita bons substitutos, e muitas vezes a própria necessidade da mãe de buscar a subsistência da família pode determinar um saudável corte na relação simbiótica existente entre ela e o filho. Ainda assim é importante frisar que em algum momento algo ou alguém deve exercer as funções de pai, assim como alguém deverá assumir as funções da mãe quando ela vem a faltar. Este é um assunto interessante e que podemos explorar mais, oportunamente, sobretudo após termos organizado melhor as ideias sobre o questionamento inicial a respeito do que é ser pai.
Se você se reportou à relação que tem ou teve com seu pai para construir sua definição deste papel, quem sabe não seria uma boa hora para revisitar a história de vocês e passá-la a limpo? Talvez seja necessário limpar as mágoas, esclarecer o que não ficou bem entendido, identificar o que você apontaria como erros e acertos dele, mas também reconhecer que o que você se tornou tem influência de todas essas experiências – as boas e as ruins. Voltar no tempo e rever a criança que você foi diante daquele pai é uma estratégia interessante para permitir que o adulto que você é hoje decifre para aquela criança tudo o que ela não entendeu com relação às atitudes de seu pai e, desta forma, desfazer algum mal-entendido que possa ter ficado pelo caminho.
Eu espero que você esteja apto a esta reflexão e que ao fazê-la compreenda a dimensão da importância de um pai no nosso processo de crescimento. Espero, ainda, que você seja capaz de exercitar o perdão, se ele se fizer necessário, e curar as feridas ligadas ao seu relacionamento com aquele que doou de si a semente que te ajudou a vir ao mundo. E se você já tiver filhos, provavelmente estará compreendendo melhor algumas motivações, alguns medos e alguns equívocos que geralmente só estando neste lugar é que se entende. Este ato de humildade diante do humano que existe naquele que escolheu ser seu pai pode servir de exemplo e inspiração para seus descendentes quando, quem sabe um dia, eles também estarão refletindo sobre a relação que estabeleceram com você.
A propósito, como tem sido sua relação com seu filho?
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